Primeiro é necessário explicar o que é Panteão, peço licença aos leitores que ja conhecem o significado da palavra, para me dirigir aos que ainda não sabem, ou aos que assim como eu descobriram ha pouco tempo.
Segundo o Dicionário Aurélio de Lingua portuguesa, a palavra Panteão siguinifica: " Conjunto dos deuses de uma religião politeísta".
Ou seja, todo o conjunto de divindades reverenciadas e cultuadas por uma nação que tem seu credo em diversas deidades (Politeísmo).
Agora que já entendemos o que é Panteão, vamos continuar o nosso estudo.
O Panteão da Casa das Minas
Que a Casa das Minas não deu origem a mais nenhuma casa de culto (Não filhou, como se diz no meio religioso), é um saber notório, mas, o que muita gente não sabe, é que sua estrutura organizacional e o seu Panteão, tem servido de modelo para muitas outras casas de culto.
1 - Os Voduns
Deuses do povo Fon ou Jeje, são forças primordiais da natureza ou antepassados humanos divinizados.
Vejamos como se configura o Panteão de divindades da Casa das Minas de acordo com cada família.
- Família de Davice.
- Família de Dambirá.
- Família de Savaluno.
- Familia de Queviossô.
Alguns voduns jovens chamados Toqüéns ou Toqüenos cumprem a função de guias, mensageiros, ajudantes dos outros voduns.
Nos clãs de Queviossô e Dambirá são os voduns mais jovens que desempenham esse papel.
São eles que "vêm" na frente e chamam os outros. Têm cerca de quinze anos de idade, podendo ser masculinos ou femininos, pertencendo a maioria à família de Davice.
2 - As Princesas meninas (Tobóssis)
Fazem também parte do panteão da Casa das Minas as Tobóssis, divindades infantis femininas, consideradas filhas dos voduns, recebidas pelas dançantes com iniciação plena, as chamadas Vodúnsi-gonjaí.
É muito triste se dizer que as "meninas princesas", não vêm mais nos tambores de mina, pois com o falecimento das últimas Vodúnsi-gonjaí, grande parte do processo iniciatório se perdeu de modo que não houve mais quem pudesse atingir o grau completo de gonjaí (Senioridade).
Em diferença aos Voduns, que podem se manisfestar em qualquer adepto, as Tobóssis na Casa das minas, são entidades unica e exclusivamente de suas "Gonjaí", e com a morte da mesma, não se incorpora em mais ninguém.
3 - Os Voduns e sua famílias
Os voduns cultuados na Casa das Minas estão agrupados nas seguintes famílias:
- Nochê Naê, Mãe Naê - A vodum mais velha e ancestral mítica do clã.
- Zomadônu - O dono da Casa das Minas e chefe de uma das linhagens da família de Davice. Rei e pai dos toqüéns Toçá e Tocé (gêmeos), Jagoboroçu (Boçu) e Apoji. Zomadônu é filho de Acoicinacaba.
- Acoicinacaba (Coicinacaba) - Pai de Zomadônu e filho de Dadarrô.
- Dadarrô - Chefe da primeira linhagem da família; Vodum mais velho da família de Davice. Casado com Naedona e pai de Acoicinacaba, portanto, avô de Zomadônu. É pai de Sepazim, Doçu, Bedigá, Nanim e Apojevó. Representa o governo e é protetor dos homens de dinheiro.
- Naedona (Naiadona ou Naegongom) - Esposa de Dadarrô e mãe de Sepazim, Doçu, Bedigá, Nanim e Apojevó.
- Arronoviçavá - Irmão de Naedona, é cambinda (mas segundo a tradição de outras casas, é considerado Jeje).
- Sepazim - Princesa casada com Daco-Donu, com quem teve um filho chamado Tói Daco, que é toqüém.
- Daco-Donu - Marido de Sepazim, pai de Daco.
- Daco - filho de Sepazim e Daco-Donu. É Toqüém.
- Doçu (Doçu-Agajá, Maçon, Huntó ou Bogueçá) - Jovem cavaleiro, boêmio, poeta, compositor e tocador. Pai dos três toqüéns Doçupé, Nochê Decé e Nochê Acuevi.
- Doçupé - filho de Doçu. Toqüém.
- Nochê Decé - filha de Doçu. Toqüém.
- Nochê Acuevi - filha de Doçu. Toqüém.
- Bedigá - Também cavaleiro como o irmão Doçu, aceitou a coroa do pai Dadarrô que Doçu tinha recusado, protetor dos governantes, advogados e juízes.
- Apojevó - Filho mais novo de Dadarrô. è Toqüém.
- Nochê Nanim (Ananim) - Filha adotiva de Dadarrô, criou Daco (neto de Dadarrô) e Apojevó (seu irmão mais novo).
Família de Savaluno - É uma família de Voduns amigos de Davice, não são Jeje, e são hóspedes na Casa das Minas.
- Topa - um Vodum solitário, o qual tem mais dois irmãos, Agongono e Zacá.
- Zacá (Azacá) - Vodum caçador.
- Agongono - Vodum que se relaciona com os astros; amigo de Zomadônu e pai de Jotim.
- Jotim - filho de Agongono. É Toqüém
Família Dambirá - Reúne os Voduns da terra, estão ligados as doenças e as curas.
- Acóssi Sapatá (Acóssi,
Acossapatá ou Odan) - Curador e cientista, conhece o remédio para todas as
doenças. Ficou doente também por tratar os enfermos. Pai de Lepom, Poliboji, Borutoi, Bogono,
Alogué, Boça, Boçucó e dos gêmeos Roeju e Aboju.
- Azile - Irmão de Acóssi.
Também é doente.
- Azonce (Azonço, Agonço ou
Dambirá-Agonço) - irmão de Acóssi e Azile, o único que não é doente. É velho e é Nagô. Pai de Euá.
- Euá - Filha de Azonce, também
é Nagô.
- Lepom - Filho mais velho de
Acóssi. Vodum velho.
- Poliboji - também vodum
velho.
- Borutoi (Borotoe ou Abatotoe)
- Vodum velho. Usa bengala.
- Bogono (Bogon ou Bagolo) - diz-se
que se transforma em sapo.
- Alogué - diz-se que é
aleijado.
- Boça (Boçalabê) - Mocinha
alegre, está sempre com o irmão Boçucó. Toqüém.
- Boçucó - outro dos irmãos
mais novos. Toqüém.
- Roeju e Aboju - irmãos
gêmeos. Ambos toqüéns.
Família de Queviôsso - Embora não sejam Orixás, é uma família considerada Nagô (Somente Nanã é cultuada em candomblés de Orixás, juntamente com seus filhos Omulu e Oxumarê, incorporados ao Panteão Yorubá desde a África).
- Nanã (Nanã Biocã, Nanã
Burucu, Nanã Borocô ou Nanã Borotoi) - Diz-se que é de Davice mas auxilia
Queviossô. É a Nagô mais velha, a que
trouxe os outros.
- Naité (Anaité ou Deguesina) - Mulher velha que representa a lua.
- Vó Missã - É a velha que
resolve tudo entre os Nagôs.
- Nochê Sobô (Sobô Babadi) - Considerada mãe de todos os Voduns de Queviossô (Badé, Lissá, Loco, Ajanutoi,
Averequete e Abé), representa o raio e o
trovão.
- Badé (Nenem Quevioçô) - Representa o corisco, equivalente a Xangô
entre os Nagôs. É mudo e se comunica por
sinais.
- Lissá - Vodum dos
astros, representa o sol, é vadio e anda muito. Também é mudo.
- Loco - representa o vento e a
tempestade. Também é mudo.
- Ajanutoi - É surdo-mudo e não
gosta de crianças.
- Abé - Vodum dos astros, como
Loco, representa o cometa, uma estrela
caída nas águas do mar. Vodum jovem e
mulher. Uma dos poucos do clã que
falam. É toqüém. Corresponde ao orixá Iemanjá dos Nagôs.
- Averequete (Verequete) -
Também fala e é toqüém.
Também há dois Voduns amigos da família de Queviôsso que tomam conta dos filhos de Dambirá que são eles:- Ajautó de Aladá (Aladanu) - Amigo da casa. Pai de Avrejó. É velho e usa bengala. Ajuda Acóssi, que é
doente. Mora com o povo de Queviossô. É rei Nagô, protetor dos advogados.
- Avrejó - Filho de Ajautó.
Toqüém.
Não podemos nos esquecer de Avie Vodum, Deus Supremos dos Voduns, como Oludumaré ou Olorum, Deus Supremos dos Yorubás. Avie Vodum está inacessivel e inalcançável, sendo por isso, pouco lembrado pelos devotos e não tendo um culto específico.
4 - Legbá ou Legbará
Conhecido nas religiões Afro-brasileiras como "Exu", é uma divindade que assume podemos dizer na falta de uma melhor tradução, a função de um trapaceiro. Não é cultuado na Casa das Minas, onde o identificam com o mal. Não é aceito como mensageiro como em outras casas, função essa realizada pelos Tóquem. Mesmo não tendo um culto próprio, se observa certos rituais ligados a Legbá, tais como certas cantigas para que Legbá se afaste pouco antes de se começarem os rituais.
Conclusão
Há outros voduns do tambor-de-mina que
não aparecem nesta classificação por não serem referidos na Casa das Minas, mas
que são cultuados em outros terreiros, como Boço Jara, Xadantã e Vondereji
presentes na Casa de Nagô, mais essa parte por enquanto fica para um outro artigo. E é isso aí meus amigos, agora temos uma visão mesmo que seja superficial do Panteão da Casa das Minas. Um abraço carregado de Axé para todos vocês!
- Ajautó de Aladá (Aladanu) - Amigo da casa. Pai de Avrejó. É velho e usa bengala. Ajuda Acóssi, que é doente. Mora com o povo de Queviossô. É rei Nagô, protetor dos advogados.
- Avrejó - Filho de Ajautó. Toqüém.
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