29 de set. de 2024

O grande povo de Surrupira

 

Ponto de Surrupira

Olá irmãos que vestem o branco!

Hoje falaremos de um povo encantado de grande força nos terreiros, e que apesar de serem conhecidos por alguns, é muito mal interpretado pois sua maneira forte de agir, e seus trejeitos causam temor em alguns, são “O Povo de Surrupira”, e falaremos deles a luz do “Tambor de Mina”, então boa leitura!

No “Terreiro da Fé em Deus”, de Mãe Elzita, chefiado espiritualmente por Surrupirinha, embora a mãe-de-santo costume afirmar que ele é uma entidade brasileira, há cerca de 20 anos, em transe com aquela entidade, declarou: "eu também sou africano". Conta-se que naquela ocasião, estavam eles acompanhados do linguista togolês Lebené, quando Surrupirinha se apresentou como africano. Algum tempo depois, narrando o ocorrido a dona Elzita, lhe foi perguntado o porquê daquilo, e obtiveram dela a seguinte explicação: "Surrupirinha é muito brincalhão e como o moço foi apresentado como africano, ele disse que também era africano"... A declaração de Surrupirinha, embora não tenha alterado a sua classificação no terreiro de Mãe Elzita, nos levou a indagar sobre sua nacionalidade.

Os Surrupiras são representados geralmente como entidades da mata, que moram em pés de tucum - palmeira abundante no Amazonas, Pará e no Maranhão que tem muito espinho. Por essa razão as obrigações para eles são realizadas nos tucueiros (tucunzeiros, ou tucumanzeiros) e nos rituais realizados para invocá-los ou homenageá-los se costuma preparar para eles uma cama de espinhos, forrando o chão com folhas de tucum (tucumã), ou se entrega aos médiuns em transe com eles a capa das folhas ou do cacho daquela palmeira, coberta de espinhos, e eles passam a dançar abraçados a ela.

Tudo indica que os Surrupiras entraram nos terreiros de Mina depois dos Turcos - encantados da família de Ferrabrás de Alexandria -, já recebidos em São Luís no final do século XIX. De acordo com a tradição oral, veio primeiro o chefe da família, o Rei Surrupira, incorporando no “Terreiro do Egito” em Zacarias, que atuara como tocador de tambor da “Casa de Nagô”. Segundo informação de pais-de-santo que foram preparados naquele terreiro, Rei Surrupira veio para impedir que espíritos das trevas dominassem o mundo espiritual, mas, como é selvagem, não foi bem compreendido e não foi aceito na “Casa de Nagô”. Contado pelos mais velhos, na época, de acordo com depoimento de “Mãe Dudu” da “Casa de Nagô” (falecida em 1989, com mais de cem anos) entre 1918 e 1920 eles vinham em uma cozinheira daquela Casa, mas não ficaram lá porque não havia ali a linha deles.

Reconhecido pela Mãe-de-santo do “Terreiro do Egito” Mãe Pia, Rei Surrupira incorporado em Zacarias começou a realizar alguns rituais até então desconhecidos ali, como tocar em cabaças emborcadas na água do rio, que chegou a ser reproduzido em terreiro de outros filhos da Casa. Mas, para que ele pudesse realizar melhor o seu trabalho, Zacarias teve que abrir uma Casa para ele em um sítio, longe do Centro da cidade. Nesse terreiro ele preparou D. Denira, que incorporou D.Surrupira e que mais tarde abriu também um terreiro de Mina, onde Mãe Elzita recebeu seu guia-chefe, Surrupirinha, filho de Rei Surrupira e D. Surrupira.

Fala-se que no “Terreiro do Egito”, o Rei Surrupira era conhecido como Surrupira do Gangá, mas com a continuação começou a ser denominado também em São Luís como "Mata Zombano", termo ate então usado para designar o poderoso encantado do Codó Légua-Boji-Boá, de quem se dizia poder matar zombando... Dizem que na Casa de D. Elzita, apesar das letras das musicas cantadas para os Surrupiras se referirem a ele tanto como "Gangá" e como "Mata Zombano", eles são classificados como Fulupa, categoria também integrada por entidades representadas como feiticeiras, como as da corrente de São Cipriano. Segundo D. Elzita, a classificação dos Surrupiras como Fulupa se apoia em informação recebida por ela de sua Mãe-de-santo.

Os Surrupiras podem ser recebidos nos rituais como caboclos, como civilizados, se comportando de acordo com o sistema da Casa (falando na língua dos médios, cantando etc, como ocorre no Tambor de Mina e mesmo no Tambor de Fulupa do “Terreiro da Fé em Deus”), mas, na maioria das Casas costumam se apresentar como selvagens, principalmente quando homenageados juntamente com entidades indígenas nos rituais denominados: Tambor de Índio, Tambor de Borá ou Canjerê. Nesses contextos eles às vezes podem assumir características muito estranhas como: se apresentar uivando, pulando, com olhos esbugalhados, com os braços para trás e querendo fugir do terreiro - correndo em direção a janelas ou do quintal .

Mas, se a palavra Surrupira nos leva a associá-lo ao índio brasileiro (ao Curupira da mitologia tupi), o nome da sua mata, do lugar de onde veem ou onde moram - a Mata do Gangá, e a categoria Fulupa na qual são classificados mostram que nos terreiros de Mina eles foram ou são também associados à África. Teriam eles alguma relação com os Felupe da Guiné-Bissau ou com a etnia africana conhecida como Gangá encontrada em Cuba, 1983. E a palavra Gangá poderia ter sido derivada de Ganga - chefe em língua de grupo Banto. É bem verdade que a palavra Felupe é usada por Pais-de santo maranhense para designar outra linha de entidades da Mina, a dos Botos e Marinheiros, ou para designar a nação do terreiro de Nhá Alice, já desaparecido, mas segundo D. Elzita esclareceu que não tem elementos para afirmar se os Fulupa de sua casa são os Felupe daquela Casa ou pertencem à mesma linha de encantados.

Indagando nos terreiros maranhenses sobre o surgimento dos Surrupiras em terreiros de Mina mais antigos de capital, nos deparamos com uma conhecida doutrina (musica ritual) que, apesar de cantada em Casas que recebem Surrupiras (Rei Surrupira, D.Surrupira, Surrupirinha e outros encantados da mesma família), é considerada por alguns um insulto.

“IMBA FORA SURRUPIRA, IMBA FORRA GUERREIRO

IMBA FORA SURRUPIRA, CABOCLO É BRASILEIRO”.

Segundo o que dizem, essa música foi cantada a 1ª vez em junho de 1937, no terreiro de Mãe Maximiana e logo depois em Belém, no bairro da Pedreira, no Terreiro do Paraense Pai Sátiro. Falando a respeito dela, D.Elzita declarou que, se estiver visitando um terreiro e aquela musica for cantada ela vai embora. E esclareceu: "Onde o meu encantado não é aceito eu também não sou". Na interpretação de D. Elzita, "Imba fora Surrupira" diz que ali não é lugar para ele ou que ele não pode entrar no terreiro onde foi apresentado.

Ao ouvir essa história a curiosidade bateu de conhecer a origem daquela música e em conversa com alguns Pais-de-santos mais velhos, fui informado que ela foi cantada pela primeira vez em São Luís em um terreiro que, apesar de receber caboclo, não recebia Surrupiras e que a música foi cantada por alguém que entrou em transe com uma daquelas entidades durante um toque de Mina Indagando a respeito do motivo da rejeição dos Surrupiras naquela casa, fomos informados por um Pai-de-santo que ela não tinha nada a ver com sua nacionalidade ou identidade africana (ser ou não ser africano) e sim com os "modos" dos Surrupiras. Fala-se no Maranhão que Surrupira é indisciplinado, brigão, beberrão, grosseiro e que maltrata o médium - "Esbaqueia" (pode lavá-lo ao chão ou contra a parede). Fala-se que quem é escolhido pôr ele e não é preparado para recebê-lo sofre muito, pode ficar louco e até morrer. Muitos que os receberam no começo, fugiram para o mato e voltaram cheios de espinho, se atiraram na lama, subiam em Tucueiro (ou Tucunzeiro, Tucumãnzeiro), ou foram levados pôr eles (desapareceram na mata). Segundo informações, foi esclarecida que por D. Elzita apesar dos Surrupiras ter essa fama, a casa dela é comandada por um deles, Surrupirinha, e que lá ele é o primeiro a dar bom exemplo aos outros encantados. Segundo aquela mãe-de-santo, o procedimento dos encantados depende muito do sistema da Casa e do médium que o recebe.

Outros relatos ouvidos em terreiros maranhenses mostram que Surrupira não foi o único rejeitado por seus atributos. Em 1944-1945, o pesquisador paulista Octávio da Costa Eduardo ouviu com surpresa em Santo Antônio, povoado negro do município de Codó, uma doutrina cantada no Terecô onde a entidade Légua Bogi parecia convidada a se retirar do terreiro. O pai-de-santo Jorge Itaci, em depoimento gravado em vídeo pouco antes do seu falecimento, diz que a sua mãe também não gostava dos modos rudes de Légua-Bogi e esse terminou sendo recebido por ele ( DOCUMENTÁRIO JORGE BABALAÔ, 2004).

“ARRETIRA SEU LÉGUA, SEU LÉGUA JÁ VAI”

Mas por que Légua Boji seria convidado a deixar o terreiro de “Santo Antônio” (Codó) quando os médiuns no Terecô, tal como ocorre na Mina, ficam muitas horas em transe com seus encantados?. As explicações ouvidas nos terreiros maranhenses para a exclusão de Légua-Bogi vão na mesma direção das que foram dadas sobre o afastamento de Surrupira. Légua é um guerreiro, briguento, beberão, "pesado" - difícil de ser "carregado". Por essa razão, muitos temem ser escolhidos por ele como "cavalo" (médium de incorporação). Como diz uma de suas doutrinas:

“SEU LÉGUA QUANDO VEM, VEM FAZENDO CONFUSÃO

TIRA A TAMANCA DO BOI, SEU LÉGUA

LUGAR DE PESO É NO CHÃO”.

Mas, segundo Mãe Mariinha - mãe-de-santo de Umbanda com Casa no bairro do Angelin -, os terreiros quando cantam as doutrinas de Surrupira e de Légua (citadas anteriormente e que foram interpretadas como um sinal de rejeição ou pedido de afastamento) quando estão em demanda, para expulsar a corrente negativa. Essa outra interpretação torna plenamente compreensível a presença de tais musicas no repertório de terreiros que integraram aquelas entidades. É possível que em alguns dos contextos mencionados elas tenham sido cantadas não para expulsar Surrupiras e Légua, mas para solicitar a sua ajuda ou proteção.

A relação dos "mineiros" maranhenses com Surrupiras e com Légua é bastante ambígua. Os dois são temidos e podem até ser considerados indesejáveis, mas são muito invocados em caso de demanda. A força dessas entidades atemoriza e tranquiliza, pois, quando voltada contra os inimigos, dá segurança a quem recorre a ela. Ter Surrupira e/ou Légua ao seu lado é algo desejável, embora se fale que poucos sabem lidar com eles. Tê-los na Casa é ao mesmo tempo uma segurança e um risco, pois se afirma que, quando contrariados, podem ser vingativos e cruéis. E, tanto um como outro, tem atributos da entidade Dahomeana Légba que os terreiros mais antigos do Maranhão – “Casa das Minas” e “Casa de Nagô” -, preferem manter afastado .

 Então é isso, nesse Post falamos sobre uma das entidades mais mal compreendias dos terreiros, que tem fama de mal, de brabo e et..., mas que na verdade são grandes trabalhadores, que mesmo aqui nós so termos falado deles a luz do Tambor de mina, eles tambem tem grande força nos terreiros de umbanda e da Pajelança.

Espero sinceramente que tenham gostado, um grande abraço, e desejo a todos um grande axé!

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